terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Sessão dezessete.

Sempre me falta coragem. Todos os dias. Incapaz de chegar ao fim, como escritores ruins. Merda de vida. Juro que desde ontem tô com uma vontade incessante de vomitar. Odeio tudo hoje. Tenho doze anos e queria morar sozinha, no meio de uma cidade esquecida no calcanhar do mundo. Não ia ter ninguém pra amar, e tudo doeria tão menos. Não teria nada tão enfadonho pra estudar, e eu não estaria com essa náusea que não passa. Devo estar grávida de um futuro podre. Vai nascer prematuro, amanhã.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Sessão dezesseis?

Se eu fosse RHYKA e PODEROZA, ia curtir minha fossa em um lugar bem glam, tipo a novela das oito, chorar champanhe e comprar cinquenta novos pares de sapato, mesmo que a minha índole, que uns chamam alma, de pobre transformasse os cinquenta pares em vinte all star, vinte melissas e dez havainas.

Então o meu DIZESPERO seria um iate daqueles ancorados em Sardegna, que mudam de cor à noite, que nem o do Armani, e as minhas amigas me consolariam com pérolas e um novo creme à base de fígado de unicórnio clonado de um sonho da Sasha, e então eu faria uma SENA com meu rosto rejuvenescido e colocaria um silicone de cristais e diminuiria meu nariz com o Pitanguy. Claro que eu não saberia escrever muito bem, mas escrever é tão LAST CENTURY, porque é claro que eu manjaria bem inglês, eu e a minha DOULEUR caminhando cheia de sacolas pela Champs-Elysées, reencontrando AMYGAS e passando no shoppingzinho que tem perto da Zara, para entrar no Starbucks e pedir um hot white chocolate.

Mas com meus cinco pilas, compro uma barra de Milka na Americanas, coloco Moulin Rouge no cartão, débito, doze pilas, putz, vai faltar até o fim do mês, sempre falta, penso em como nunca mais seria bolsista se meu professor pensasse que eu tirei um 6 chorado em processo civil, em uma prova que se o vento batesse em um potinho de nanquim e ele se derramasse pela prova, teria grandes chances de gabaritá-la (até porque não precisaria desvendar os desígnios estranhos do fraseamento super sensato, com uma coerência lógica das mais apuradas, de meu justo e sábio professor).

 Aí penso na Cruz Vermelha e em como quando eu falar de Direito Humanitário Internacional (olhos cintilam!) para um grupo não-ator nos breus do Congo, poder impugnar ou não o despacho saneador em prazo quadrúplo porque há um litisconsórcio unitário e necessário com a Fazenda Pública será tão inútil (se possível, ainda mais do que já é). Lembro também do meu joelho e de como eu sinto falta de correr, cross country, 8 a 10km por dia nos EUA, uns 5km por dia por aqui e agora, nada. Se caminho, dói. Se tá pra chover, dói. Morri em Belo Horizonte, a Afonso Pena e as lombas tranquilas, com uma padaria deliciosa, ou uma Igreja Universal, em sua extensão. Mas aí que talvez eu não possa ser da Cruz Vermelha sem essa maldita rótula, e a minha fossa ainda sai por cinco pilas nas Americanas.

O dia acaba, os livros me encaram e meu rosto é uma página em branco. Das menos promissoras, de crise de inspiração de escritor ruim, e sem creme de fígado de unicórnios do sonho da Sasha. Meu nariz ainda é grande e meus peitos, minúsculos. Acompanham a dimensão do cérebro, (acho que ele caiu em uma fenda sináptica e nunca mais se recuperou).