(The Dream, 1978)
Esse quadro, então, tem uma beleza tão ingênua, tão esplêndida. O artista que sonha o casamento, que sobrepaira a Cidade das Luzes, está acima de tudo, enquanto vislumbra seu sonho, estar com a pessoa amada, e a profusão de cores que isso evoca. Em um tempo de sentimentos fluidos e a necessidade de consumo, de objetos e de pessoas, é tranquilizante, é restaurador ver uma cena assim. Um homem, uma mulher, um sonho comum. Ninguém mais tem sonhos, oras, o certo é ter objetivos e uma meta cronológica objetiva de como alcançá-los. Mas não para o casal. Não para o pintor deitado sob o céu de Paris, sonhando, sonhando simples e puramente, quase um pecado pós-contemporâneo.
Paris entardece mais colorida porque ainda existe o que ser sonhado. Se a figura do sonhador, hoje, abre espaço para a do career-headed, o sonho ainda abre espaço pro impossível, que é a pós-graduação do "objetivo-a-ser-alcançado-em-dez-anos-com-margem-de-erro-de-dois-anos-para-mais-ou-para-menos". Não sei se desaprendi o suficiente para poder sonhar, mas olho pra Chagall e sei que existe algo maior que qualquer plano de carreira, algo que não se traça no papel, que se entrelaça nos olhos e é vivo mais porque é sentido do que descrito. Uma pintura de um sonho que é mais poderoso que as tantas vidas de papel em que me despejo, e volto a ser mais retina que currículo, mais grito que idioma.
Chagall mistura versos e cores na sua paleta, pincela emoções como quem mexe a sopa. Transborda, mas não se rende à pressa da colher. O infinito é um sonho que adormeceu.
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