sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Sessão onze.

Às vezes faço coisas para não gritar, como contar essa história.
(Caio Fernando Abreu)

Parece que todo o avanço é espuma em alguns dias. Parece que espuma é só o que há, espuma fingindo a profundidade do mar. Quero me afogar e sobra-me areia sob os pés. Quantos textos já foram escritos sobre a espuma e o mar? Quantos desamores já foram vencidos com metáforas de mar e espuma? Sou péssima com a superação. Tanta gente se superando, superando os outros o tempo todo; eu, hipoando. Não superei os traumas da infância, todos os dias acho que qualquer outro espermatozóide teria feito trabalho melhor que eu.

Acho, de fato, que eu era um espermatozóide suicida: olhei aquela bolha e, desde lá não primando pela perspicácia, pensei que a colisão poria um fim à minha breve jornada. Mas a bolha cedeu e todos os outros espermatozóides, uns atléticos, outros lindos, uns geniais, quedaram-se pasmos, boquiabertos estariam, já tivessem uma fenda labial. O espermatozóide gordo e estúpido enfiado em um óvulo ainda mais gordo e estúpido. Desde lá, só faço ficar mais gorda e estúpida, o eterno retorno ao útero materno.

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