segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Sessão Um: por que estou aqui?

http://www.youtube.com/watch?v=T5Xl0Qry-hA

I was five
and he was six
We rode on horses made of sticks
He wore black and I wore white
He´d always win the fight

Bang bang, he shot me down
Bang bang, I hit the ground
Bang bang, that awful sound
Bang bang, my baby shot me down

Seasons came and change the time
When I grew up, I called him mine
He´d always laugh and say
"Remember when we use to play?"

Bang bang, I shot you down
Bang bang, you hit the ground
Bang bang, that awful sound
Bang bang, I used to shoot you down

Music played and people sang,
Just for me the church bells rang.

Now he´s gone I don´t know why
And till this day, sometimes I cry
He didn´t even say goodbye
He didn´t take the time to lie

Bang, bang, he shot me down
Bang bang, I hit the ground
Bang, bang, that awful sound
Bang, bang, my baby shot me down


Quando começo a realmente estudar processo, a como auferir competências e conexões e a porcaria toda qu´il faut, cai uma folha com "Norwegian Wood" impressa de dentro do caderno. Eu realmente não saio mais de casa sem computador. I once had a girl, or should I say, she once had me. She showed me her room, isn´t it good, Norwegian Wood? Estava datada ainda, do tempo que as músicas tristes não faziam senão um sentido hipotético abstrato. Adriana Calcanhoto podia arranhar quantos discos quisesse pra ver se ela voltava, Nancy podia ser metralhada à vontade, e Norwegian Wood só era uma música bonita, a preferida da Naoko. Eu preferia a Midori, mas demorei até me interessar por Murakami de verdade. E jamais teria, não fosse o primeiro livro, primeiro presente, malditas dedicatórias e seus prazos de validade.



Na verdade, começou com o Miller, começou comigo e um livro comprado num sebo de Buenos Aires - todos los fuegos - el fuego, do Cortázar, que achei genial o primeiro conto, e aí dei pra ele sem nenhuma dedicatória, com uma pressa e um desleixo calculados. No fundo, vontade enorme de dedicar tudo que eu já tinha visto, pensado, escrito, sonhado, pra ele, naquele livro. Mas não escrevi nada. Rasguei na frente dele a parte onde tinha o preço escrito, lápis, quinze pesos, talvez menos, e entreguei. Morria de vergonha dele, morria de vergonha de mim lá, meio nua meio sem saber porquê, numa segunda-feira à tarde no quarto dele, alguma música que eu desconhecia tocando e aquele ar de superioridade cult que ele tinha e que não me permitia nenhuma aproximação ou conversa de verdade, daquelas sem merdas intelectuais e citações metidas à besta, conversas de um cara e uma guria depois do sexo numa segunda-feira à tarde. Nada daquilo, reentrâncias filosóficas, mofo existencial e uma garrafa de Polar antes de eu ter de sair pra UFRGS. A superficialidade daquilo, a profundidade calculada da voz, dos gestos, tudo me enojava um pouco, mas.


Tinha algo debaixo daquilo tudo. Algo que podia rir de bobagens, que podia dançar na frente do computador, que podia planejar a presença de Fernanda Zaffari no nosso casamento falido de abobados desiludidos com a universidade e sem futuro algum nos bolsos. À época, nada disso era verdade, e hoje talvez nem tenha sido mais. Mas na hora eu apostava nisso, apostava nisso e voltava, toda segunda, meio muda, meio contrariada, meio constrangida, não sabia bem o porquê, mas eu precisava ir e me morreria inteiro se não fosse.
Lembro quando ele disse "hoje não", motivo algum. Em três anos, não importava se affair, fuck buddy, namorada, o devir não mudava em nada o fato de que eu nunca mereci a explicação de motivo algum. Nem no começo, nem no fim. Mas ele disse hoje não, amanhã também não, nem depois, a gente se fala. Na sexta, a noite mais aleatória de todas, fiquei com o outro. O outro era bom, me levava pra almoçar e pro cinema, não parecia me achar estupidamente burra por nunca ter lido Stendhal ou saber quem eram os maiores nomes do teatro americano contemporâneo. Grande merda, até hoje não sei e, bem bairrista, gosto do Alabarse, falem o que quiser. Ria do que eu falava e brincava de fazer futuros, gentil e querido. Mas não era ele. E me doía o fato de que não podia ser o outro, eu tentei que fosse o outro, eu queria que fosse o outro e disse isso pra ele quando depois as coisas aconteceram daquele jeito estranho que as coisas acontecem.
No fundo, começou ainda antes.

 vou rodar em processo civil, não vou poder ir pra Savoie e a febre voltou. E a maldita folha com a maldita música tá aqui em cima do "Instituições de direito processual civil", do Dinamarco, que eu nem comecei a ler ainda. Dia de não ter nada pra contar pros netos que eu não vou ter.

2 comentários:

  1. Ah sim, a não ser que sou possivelmente a primeira pessoa no mundo que queimou chá.

    Agora a casa inteira tem cheiro de baunilha, o sachê ficou todo preto e a chaleira também, maldita memória.

    Talvez eu conte pros meus gatos sobre como eu tirei -5 em processo e aí larguei o direito e fui jogar búzios em alguma prainha esquecida do Rio de Janeiro.

    Sim, vou ser uma velha amargurada e mentirosa. Os gatos que me aguardem.

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  2. Também podia jogar búzios em Buenos Aires, fazia tempo que eu não lembrava de lá, ou então em évian-les-bains, montar uma tendinha perto das lojas de muçulmanos (talvez ser apedrejada por não ter um pinto) e coisas assim.

    Ou talvez estudar e ser uma jurista idiota e cheia de grana. É, claro.

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